Candidato Ricardo Vicente

BE

Ricardo Vicente

Em poucas palavras, apresente-se ao eleitorado.

Engenheiro Agrónomo, pós-graduado em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável. Ativista ambiental, com participação em várias organizações em defesa do Pinhal de Leiria. Fundador do movimento Peniche Livre de Petróleo e da Associação de Combate à Precariedade - Precários Inflexíveis. Residente na Lourinhã. Deputado do Bloco eleito pelo distrito de Leiria desde 2019.

Quais as suas prioridades para o distrito de Leiria?

Vivemos tempos de urgência. As alterações climáticas já se fizeram sentir da pior maneira no distrito de Leiria: os incêndios de 2017 devastaram o território e bateram recordes em área ardida e em número de vítimas, mas o Governo parece não ter aprendido com o passado. A gestão do Pinhal de Leiria continua negligente e as populações afetadas pelos grandes incêndios de 2017 nunca receberam o devido apoio para recuperar o território. Apoiar os pequenos proprietários florestais a construir uma floresta mais resiliente e que lhes permita ter uma melhor fonte de rendimento é essencial. É preciso travar o abandono e garantir uma produção agroflorestal mais sustentável. Para isso os subsídios da PAC têm de deixar de excluir mais de metade dos agricultores do distrito de Leiria e de privilegiar grandes proprietários a sul do Tejo. Reconstruir áreas ardidas, despoluir linhas de água, preservar biodiversidade, mitigar e adaptar o território às alterações climáticas são prioridades ambientais, mas são também uma razão para qualificar a economia e garantir melhores níveis de rendimento da população. Ao nível da saúde, é preciso expandir as infraestruturas do Centro Hospitalar de Leiria e construir um novo hospital para o Oeste. Também os centros de saúde devem ser aumentados, pois em muitos locais não há condições para receber novos médicos de família e outros especialistas. É ainda incontornável melhorar as condições de trabalho dos profissionais de saúde, de forma a que seja possível concorrer com o sector privado, fixar médicos e enfermeiros no distrito e evitar a emigração de quadros essenciais como acontece atualmente.

Que soluções propõe para os problemas de habitação no distrito, incluindo o acesso à habitação acessível e a revitalização de áreas urbanas degradadas?

Travar a despoluição de recursos hídricos e solos pelas suiniculturas é possível, mas é essencialmente uma exigência fundamental para as gerações presentes e futuras. A água é um recurso cada vez mais escasso para os ecossistemas e para a economia, por isso tem de ser protegida. Na bacia hidrográfica do Lis produzem-se entre 1300 a 2000 m3 de chorumes por dia e apesar de haver apenas capacidade instalada para tratar 280m3, na ETAR do Coimbrão, esta só é atingida em dois terços. Para agravar, os suinicultores têm uma dívida de 1,5 milhões de euros com os contribuintes da região porque se recusaram a pagar os custos de tratamento à empresa pública responsável. Enquanto isso, libertam indiscriminadamente em solos e linhas de água mais de mil m3 por dia. É imprescindível acabar com a impunidade dos infratores. Para isso defendemos o reforço da fiscalização, o agravamento das penalizações e a construção urgente de estrutura pública de tratamento, valorização e monitorização, com dimensão adequada e cobrança de custos aos suinicultores. Propomos também um programa de transição ecológica para a agricultura da região.

Tem planos para promover a inovação, o empreendedorismo e a criação de emprego qualificado no distrito? Quais?

É preciso descarbonizar os transportes e a aposta na ferrovia é a melhor opção para passageiros e mercadorias. Neste sentido, a promoção de transporte aéreo não é uma prioridade. Primeiro é preciso garantir uma linha do oeste competitiva, integrada num plano ferroviário nacional e articulada com transportes rodoviários coletivos que possibilitem levar a vantagem da linha a todos os concelhos. O não cumprimento desta prometida requalificação não reduz a sua necessidade. Esta é cada vez mais urgente.

O que se pode fazer para uma acção mais eficaz em termos ambientais, incluindo a proteção dos recursos naturais, gestão de resíduos e mitigação das alterações climáticas?

Não concordo. Até hoje as ações concretizadas no Pinhal de Leiria apesar de tardias recorreram de forma avulsa, sem visão de conjunto. Anunciaram-se milhões mas não se percebe como se estabeleceram prioridades. Todo o processo tem sido muito obscuro. O Governo mobilizou dezenas de cientistas para elaboração de diagnósticos e de propostas de intervenção e até impulsionou a criação de um Observatório, mas até hoje nunca demonstrou interesse em acolher as propostas apresentadas por cientistas, cidadãos e organizações locais. Prova disso é que acabou de lançar um Plano de Gestão Florestal (PGF) que ignora muitas das recomendações e parece ter sido feito à pressa. Segundo a Comissão Científica, o PGF deveria começar pelo processo participativo, com o envolvimento dos atores locais, mas o ICNF decidiu fazer o habitual e escreveu uma proposta sem envolver ninguém.

Apresente algumas propostas para melhorar a mobilidade no distrito.

Sim. A regionalização é a forma de descentralização que fortalece a democracia e pode zelar por uma maior equidade social e territorial em todo o país, ao contrário do processo de municipalização que o Governo decidiu implementar, tratando os municípios como se tivessem todos a mesma capacidade socioeconómica.

Qual o político que mais o(a) impressionou no passado e que o(a) inspira no presente?

Sobre o passado várias pessoas me impressionaram, mas nenhuma com o impacto do médico e dirigente do Bloco, João Semedo, para responder aos desafios atuais. Em 2018, quando não imaginávamos a Covid-19, pouco tempo antes de morrer, lançou um livro com António Arnault: uma proposta de Lei de Bases da Saúde para defender a democracia.

Que livro recomendaria ao próximo primeiro-ministro?

Colapso – Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso? De Jared Diamond.